segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Para encerrar a conta bancária, chá de espera e desaforo


Um amigo meu, na justa intenção de empreender, montar seu próprio negócio e progredir, após prévia sondagem, consultas e planejamento, iniciou os primeiros passos rumo aquilo que imaginou ser a sua redenção financeira, mas que não passou de uma dor de cabeça danada.
Entre várias ações, visando o início do seu grande negócio, cujo ramo não vem ao caso mencionar, uma delas seria a abertura de uma conta bancária. Na agência escolhida para a pretendida ação, situada na praça central da cidade vizinha de Jussara, neste Estado de Goiás, foi o dito cujo mencionado recebido num tapete vermelho imaginariamente a ele estendido, tão amável e gentilmente fora acolhido. Sorrisos distribuídos, café e água fresca oferecidos. O gerente da agência procedeu tudo o necessário, e de tão bom e agradável, conseguiu facilmente, com poucas palavras, lhe enfiar goela abaixo, macio e liso, a venda do cartão de crédito, um apêndice da conta aberta, que inclusive, nunca viera a usar.
Decorrido o prazo de alguns meses, sem a viabilização do sonhado empreendimento e trombando de cara com a dura realidade, percebeu que entre as medidas a serem tomadas, a fim de retroceder alguns passos inutilmente dados, e evitar transtornos e prejuízos maiores do que os já sentidos e verificados na própria pele, estava o encerramento da tal conta bancária. Entre taxas pagas, mensalmente por uma conta que nunca utilizara, mais de trinta reais eram depositados todo mês. Então, além de desfazer-se de um instrumento não utilizado e por ora sem serventia, ainda tratava-se de uma providência que renderia algumas patacas economizadas. Dito e feito, assim seriam procedidos. Na mesma agência bancária, o mesmo pessoal, tudo muda agora. Sentiu o tapete vermelho, outrora imaginado, fugir-lhe aos pés numa rasteira triste. Foi só mencionar a pretensão de encerrar a relação bancária firmada. O amável gerente fugiu da mesa, foi “ali”, conversou com alguém, telefonou, e, abandonado naquela cadeira, serviu-se de chá, chá de espera. O café da outra vez faltou, a água fresca oferecida também. Passado momentos longos de espera, volta o homem e o manda falar com uma moça em outra mesa, que era necessário primeiro cancelar o cartão de crédito que ele mesmo o vendeu, na maior atenção da outra vez. Tudo bem, pelo menos a moça era muito bonita e também educada. Após mais alguns minutos de espera e o atendimento, feito a solicitação de encerramento do cartão de crédito, foi lhe orientado a voltar noutro dia, devendo antes telefonar, para pedir o encerramento da conta, mas que antes, ainda teria de efetivar o pagamento de todas as taxas por ventura inexistente. Saindo da agência bancária, já na calçada próximo à rua, feliz e alegre, o amigo mencionou que só faltava voltar na segunda-feira, já que aquela era uma sexta-feira, e terminar de encerrar a conta. Vi tudo, inclusive partilhei do mesmo chá de espera a ele proporcionado, e senti a mesma humilhação também. A diferença é que ele nem pareceu perceber, de tão boa fé que estava imbuído, o quão bobo e palhaço fizeram dele. É assim que o sistema econômico e capitalista manipula a simplicidade e inocência das pessoas, desrespeitando e sugando, tomando junto com os valores materiais, a cidadania e todos os valores morais e sentimentais dos que caem em suas garras famintas. Mesmo cumprindo todas as obrigações, por quê tem de ser tão difícil sair do sistema, se foi tão fácil entrar? Será que é só para pagar mais, ou até mesmo multas se, num momento vir a faltar recursos para as taxas? 

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